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Eu Nunca Fui Embora - PARTE 2, o ato musical mais pop da Fresno?

Fresno lança a segunda parte do álbum Eu Nunca Fui Embora, com feats de NX Zero, Filipe Catto, Dead Fish e a conclusão das sequências "Diga".

Integrantes da banda fresno posando para ensaio

Depois de pouco mais de seis meses do lançamento da Parte 1, a banda Fresno lançou a Parte 2 de seu álbum Eu Nunca Fui Embora (ENFE PT2). A banda, composta por Lucas Silveira, Gustavo Mantovani (Vavo) e Thiago Guerra, é um dos pilares do emo brasileiro, carregando uma trajetória marcada por letras intensas e melodias que transitam entre a melancolia e a euforia. Com lançamento feito através de Global Listening Parties, estivemos na Listening Party de ENFE PT 2 no Villa Country em São Paulo e sentimos na pele com a banda e outros fãs o novo álbum. Após ouvir mais algumas vezes já nas plataformas digitais e digerir o conteúdo, tive as seguintes impressões e conclusões:


  • A Gente Conhece o Fundo do Poço: A faixa de abertura me remete instantaneamente à Já Faz Tanto Tempo, da última era VTMQV. Com uma base energética e uma presença marcante de guitarras, a música entrega um ritmo contínuo digno. Definitivamente é um hit para animar shows. Lucas capricha nos vocais, que, mesmo em meio à melodia animada, trazem toda a melancolia existencial que conecta a todos nós. É uma mistura vibrante de som e sentimento, mostrando a habilidade da Fresno em transformar a dor em arte.


  • Se Eu For Eu Vou Com Você (feat. NX Zero): Esse feat era o sonho dos fãs de NX Fresno, finalmente realizado após décadas de espera. No entanto, o tão aguardado encontro acaba deixando a desejar frente às expectativas. Em vez da explosão de energia e da nostalgia emo que ambas as bandas trazem em seu DNA, a música surpreende (ou decepciona) com uma estrutura mais lenta e versos cantados em sílabas espaçadas. A interação vocal entre Lucas e Di Ferrero é mínima, o que enfraquece o impacto colaborativo. Apesar de engrenar no terço final, o uso inesperado de saxofones nos desvia completamente da atmosfera que se esperaria de um feat entre Fresno e NX Zero.


  • Fala Que Ama: A música apresenta algo diferente de tudo que a Fresno lançou até o momento em ambas partes de ENFE, embora mantenha algumas similaridades que me remeteram à Cada Acidente de VTQMV. Os versos são curtos (julguei como genéricos também), com uma repetitividade marcada e batidas eletrônicas que predominam. O uso do saxofone também é recorrente, o que pode não agradar a todos. Sem dúvida, é a música mais pop do álbum, mas, pessoalmente, não me conquistou muito. Essa abordagem pode atrair novos ouvintes, mas deixa a desejar para quem busca a essência mais intensa da banda.


  • Essa Vida Ainda Vai Nos Matar (feat. Deadfish): Essa faixa me conquistou logo de cara. Desde que foi anunciada, fiquei intrigado em ver como Lucas se encaixaria nas letras e no ritmo hardcore do Deadfish, imaginando algo no estilo das músicas que fazem você querer ir para o mosh, como aquelas do álbum "Revanche". Contudo, o verdadeiro destaque foi Rodrigo, que equilibrou seus vocais de forma impecável, preservando sua identidade. A parte final, onde Lucas e Rodrigo se unem em harmonias acompanhadas por uma explosão de instrumentos, traz à tona a essência tanto da Fresno quanto do Deadfish. Essa música é simplesmente icônica! Para mim, é a melhor do álbum.


  • Diga Parte Final (feat. Filipe Catto): Nesse feat, me pareceu uma releitura moderna e emo de Bentinho e Capitu. Nessa faixa, finalmente ouvimos a resposta de Capitu (aqui Filipe Catto) para uma história que começou lá atrás, em "Diga Parte 1" e "Diga Parte 2". A estrutura se mantém firme em versos longos, preenchendo mais de cinco minutos com uma carga emocional crescente e praticamente dividida em atos.  Deu até para atiçar o daddy issues dos emos com alguns versos. A escolha de Filipe Catto foi precisa, e isso se torna especialmente evidente no ''ato final'' da música, onde o resgate de elementos sonoros das faixas anteriores culmina em um clímax poderoso. Assim, a trilogia "Diga" se completa, com a Fresno entregando o que tem de mais autêntico, podendo agradar tanto os novos ouvintes quanto aqueles que já os acompanham há muito tempo.


  • Canção Pra Quando o Mundo Acabar: Nesta faixa, encontrei toda a melancolia clássica da Fresno. Com uma melodia crescente, o final explode em uma erupção instrumental intenso, acompanhada pelos gritos de Lucas repetindo “O Mundo Acabou”. É simplesmente de arrepiar, ressaltando a potência da banda que esperava em todas as faixas, mas que raramente se concretiza. O solo instrumental final transmite uma dor e uma tristeza tão profundas que parecem nos rasgar de dentro para fora. Mais uma vez, temos o puro suco emo da Fresno, mostrando que a essência da banda está mais viva do que nunca.


  • Camadas (feat. Chitãozinho & Xororó): aqui eu enxergo uma realização pessoal da banda, sendo uma música da Fresno para a Fresno e não para os fãs. Embora carregue uma forte nostalgia relacionada ao “MTV Estúdio Coca-Cola”, o feat acaba se mostrando dispensável. Ao meu ver, uma nova faixa teria sido mais bem-vinda do que uma regravação de um single da Parte 1 com a adição apenas dos vocais de Chitãozinho & Xororó. Essa escolha pode deixar os ouvintes divididos, pois enquanto alguns podem valorizar a homenagem, outros esperavam uma nova proposta criativa. Talvez a faixa faça mais sentido dentro do álbum da dupla sertanejo do que dentro do álbum da Fresno.


Na perspectiva pessoal de quem escreve, e não representando todos os integrantes do To Na Grade, o álbum se destaca pela sua rica variedade de emoções, capturando a essência da banda que sempre transitou entre momentos de melancolia e euforia. A adição de elementos pop, como em "Fala Que Ama", sugere uma busca por novas sonoridades, mas pode deixar alguns ouvintes que esperavam guitarras, mas receberam saxofones um pouco carentes na busca da intensidade que sempre marcou suas produções anteriores. Essa tensão entre inovação e a preservação da identidade da banda é um tema recorrente, ressoando desde a época de VTQMV.


Em contrapartida, faixas como "Essa Vida Ainda Vai Nos Matar (feat. Deadfish)'' e "Diga Parte Final (feat. Filipe Catto)'' revelam o verdadeiro brilho da Fresno, mostrando que a banda ainda é capaz de criar momentos memoráveis que homenageiam tanto seu passado quanto suas influências mais atuais. Essas canções não apenas enriquecem a narrativa do álbum, mas também oferecem uma profundidade emocional que conecta tanto novos fãs quanto os antigos de maneira impactante.


Nesse sentido, Eu Nunca Fui Embora - Parte 2 é uma obra que, apesar de suas nuances e algumas escolhas polêmicas, continua a refletir a essência da Fresno. É verdade que não se trata da mesma banda de álbuns como Infinito ou Ciano, mas sim de uma Fresno que evoluiu ao longo de quase 25 anos de carreira. É necessária certa maturidade para entender que se a intenção é reviver as melodias clássicas da banda, talvez seja mais adequado revisitar os álbuns daquela época, ao invés de esperar isso de um lançamento atual como o de 2024.


Por fim, ENFE é um álbum que pode provocar diferentes reações, mas que reafirma a capacidade da banda de emocionar e se reinventar, celebrando sua trajetória enquanto enfrenta o desafio de se atualizar. A harmonia das vozes, a força das letras predominantemente escritas por Lucas e a busca por novas sonoridades fazem deste projeto uma adição significativa ao legado da Fresno, mesmo que não alcance a grandeza esperada em todos os momentos. No final das contas, cada faixa serve como um lembrete de que a música da Fresno continua a ser um abrigo para aqueles que buscam compreender suas próprias emoções através da arte.


Ainda não ouviu a Parte 2? Ouça e comente o que achou do álbum! Nos vemos nas grades da Fresno?




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