Banda dos anos 90 se despediu da América do Sul com show extra em São Paulo
WE'RE BIKINI KILL AND WE WANT REVOLUTION GIRL-STYLE NOW! Foi com essas palavras, introdução da música “double dare ya”, que a banda iniciou o show, deixando os presentes super empolgados. Não teve uma música misteriosa para a entrada da banda, nem uma chegada posterior da principal vocalista, Kathleen Hanna; elas entraram juntas no palco e começaram a tocar todas as músicas que esse público da primeira tour latino-americana queria ouvir.
Foi uma gritaria, empurra empurra, gente pulando... As pessoas estavam tão empolgadas e conectadas com a banda que logo nas primeiras músicas levamos Kathleen a errar a música “new radio”. A vocalista, bem animada durante a noite, fez uma brincadeira como quem volta no tempo e recomeça a apresentação. Aliás, falando da vocalista, preciso mencionar que sua presença no palco é muito divertida, cantando e gritando em seu agudo característico entre muitas caretas e dancinhas que lembram os anos 60.
Ainda que tenha alcançado grande repercussão, inclusive com músicas incluídas em trilhas sonoras de produções cinematográficas, o Bikini Kill se manteve como uma banda underground, sem gravadoras de grande projeção, logo, ver o show é algo inédito, que você não encontra em qualquer rede social por aí. É uma experiência genuína.
Durante o show as integrantes da banda trocam de papéis: Erica Dawn Lyle assume a bateria; Kathi Wilcox assume a guitarra; Kathleen Hanna assume o baixo; Tobi Vail assume o vocal; entre outras variações. Para mim, Tobi Vail nos vocais foi um dos momentos marcantes, por diferentes razões. Eu, particularmente, tenho as músicas com seu vocal entre as minhas favoritas, e, na noite do dia 14 de março, pude ouvir “I hate danger”, “in accordance to natural law”, “hamster baby”, “tell me so” e “distinct complicity”. A artista canta de maneira crua, marcante nas bandas independentes do período em que o Bikini Kill surgiu, ora concentrada em uma cadência quase monocórdica, ora expandindo com seus gritos. Somado a isso, o visual de Vail exala uma atitude dos anos 90 com seus cabelos pink, óculos vintage e vestido verde-água, fazendo suas danças se tornarem cenas de cinema que poderiam ser muito bem registradas por Sofia Coppola ou Gus Van Sant.
Várias músicas clássicas criaram uma bagunça divertida entre o público, incluindo “don’t need you”, “rah! rah! replica” e “lil’ red”, ainda assim, gostaria de destacar que a banda tocou “for Tammy Rae” como homenagem e agradecimento à sua equipe.
O show foi um evento empolgante e aguardado por diferentes gerações de ouvintes da banda. Os ideais políticos do Bikini Kill dialogam com um grande público e mostram como é importante o papel que desempenham culturalmente. A banda passou por dificuldades durante os anos 90, sentido a hostilidade da sociedade e temendo por sua integridade física, culminando no encerramento de suas atividades. O retorno em tempos em que a pauta da equidade tem mais espaço é uma colheita de seus frutos e manutenção de sua luta feminista. Foi muito bom ver um show que continua com sua atitude punk, e, ao mesmo tempo, permite que todos se divirtam. Inclusive, a aura de divertimento de Kathleen Hanna me remeteu bastante ao The Julie Ruin, projeto paralelo também integrado por Kathi Wilcox. Se o Bikini Kill veio ao Brasil, algo que eu não imaginava que presenciaria na vida, por que não sonhar também com o Le Tigre e The Julie Ruin? Até lá, fico relembrando o impactante encerramento do show com a consagrada “rebel girl”.
Setlist:
1. Double Dare Ya
2. Carnival
3. New Radio
4. Jigsaw Youth
5. Feels Blind
6. I Hate Danger
7. In Accordance to Natural Law
8. Demi Rep
9. Reject All American
10. Alien She
11. No Backrub
12. Sugar
13. Hamster Baby
14. Tell Me So
15. This Is Not a Test
16. Capri Pants
17. I Like Fucking
18. Rah! Rah! Replica
19. For Tammy Rae
20. For Only
21. Distinct Complicity
22. Don't Need You
23. Star Bellied Boy
24. Lil' Red
25. Suck My Left One
26. Rebel Girl Texto por Chrislen Fotos por Ellen Artie
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